- Adivinhe quem vem para o jantar? - perguntou a chefe de cozinha chinesa Sing Chen, há oito anos trabalhando em Pequim.- Ora Sing Chen, recebemos tantas pessoas! Quem de especial dessa vez?
- Respondeu Célio Cella, um brasileiro que há uma década está em Pequim, gerente da churrascaria Beijing Brasil, enquanto observava o frenesi da freguesia em torno de mesas compridas, com dezenas de garçons circulando, exibindo espetos de picanha, maminha, cupim, costela, frango e outras carnes. Célio Cella é um dos tantos brasileiros que vivem em Pequim, a maioria da cidade gaúcha de Nova Brescia, churrasqueiros que emprestam o típico sabor para as mais de 400 churrascarias que existem no país, se bem que nem todas administradas por brasileiros. Definitivamente, o nosso típico churrasco conquistou o gosto dos chineses.
- Senhor, Cella... - continuou Sing Chen - o cerimonial da embaixada brasileira acaba de telefonar: teremos a honra de receber para jantar o presidente do Brasil. O senhor Da Silva e a primeira-dama Marisa Letícia vão apagar velinhas aqui na churrascaria. Neste domingo, 23, eles completam 30 anos de casados.
- Que bela surpresa, então é mais um motivo para prepararmos um belo jantar.
- Sim, senhor Cella. Um belo jantar, pois virão acompanhados da comitiva oficial e mais um grupo de empresários que está preparando várias surpresas para o casal.
- Sing Chen, então temos que tomar as devidas providências, conferir o estoque de carnes, verduras e bebidas. E muitas bebidas, pois li no The New York Times que o presidente é um bom copo, além de um bom garfo. O que faremos de especial para o jantar, Sing Chen?
- Eu prepararia para ele um verdadeiro banquete de Beijing. A nossa cozinha nobre, a legítima cozinha da China.
- Tem razão, Sing Chen, até porque seria um despropósito o presidente Lula vir de tão longe pra comer picanha. Com certeza eles querem conhecer duas coisas: a nobre cozinha chinesa e as muralhas da China. Sing Chen , você sabe preparar um verdadeiro banquete de Beijing?
- Sim, senhor Cella! Nossa nobre cozinha observa três coisas: as cores devem ser variadas e bonitas; a textura é importante, com todas as peças cortadas em tamanho uniforme; e fundamental: os ingredientes devem ser frescos, produtos da estação.
- Ah!... isso eu já sabia, Sing Chen! Eu li num livro chamado "Conforte-me com maçãs", de Ruth Reichel, a crítica gastronômica do The New York Times. Um livro de memórias saborosas. Amor, aventura e os prazeres da mesa, onde num dos capítulos ela escreve sobre a gastronomia chinesa.
- Senhor Cella! Presumo que esta jornalista não estará presente ao banquete. A embaixada brasileira advertiu: não quer nenhum repórter do The New York Times no banquete.
- Compreendo. Mas vamos ao cardápio. O que você sugere, Sing Chen?
- Senhor Cella, de entrada poderíamos servir peles de porco finas, cortadas em quadrados e servidas em molho agridoce. As peles não fritas vamos cortas em tiras fininhas, bem fininhas, trançá-las, fazendo uma imitação de ninho de pássaro. Ou então rã com brócolis, ou água viva, ou cobra d'água caramelada, ou...
- Vamos nos acautelar, Sing Chen, e tirar certos pratos exóticos do cardápio.
- Carne de cachorro, por exemplo?
- Exatamente. Dona Marisa Letícia Lula da Silva contou numa rara entrevista que passou por uma situação constrangedora numa viagem à Índia, me parece. No banquete oficial, um garçom lhe ofereceu um prato de carne, que ela considerou muito esquisito. Como não sabe falar inglês, e nem o garçom falava português, a primeira-dama apelou para a linguagem universal: "Au, au?", ela perguntou. E o garçom respondeu no mesmo idioma: "Au, au!".
- Sim, e como dona Marisa Letícia recusou a carne de cachorro?
- No mesmo idioma. Ela torceu a boca e o nariz, de um lado para outro, e respondeu: "Huum, huum!".
Por Dante Mendonça
Cronista e cartunista, na selva da cidade é um caçador de histórias. Diariamente relata e comenta a notícia e o que não é notícia, o que faz e o que diz com espírito a nossa gente.
Fonte: http://www.parana-online.com.br/colunistas
- Senhor, Cella... - continuou Sing Chen - o cerimonial da embaixada brasileira acaba de telefonar: teremos a honra de receber para jantar o presidente do Brasil. O senhor Da Silva e a primeira-dama Marisa Letícia vão apagar velinhas aqui na churrascaria. Neste domingo, 23, eles completam 30 anos de casados.
- Que bela surpresa, então é mais um motivo para prepararmos um belo jantar.
- Sim, senhor Cella. Um belo jantar, pois virão acompanhados da comitiva oficial e mais um grupo de empresários que está preparando várias surpresas para o casal.
- Sing Chen, então temos que tomar as devidas providências, conferir o estoque de carnes, verduras e bebidas. E muitas bebidas, pois li no The New York Times que o presidente é um bom copo, além de um bom garfo. O que faremos de especial para o jantar, Sing Chen?
- Eu prepararia para ele um verdadeiro banquete de Beijing. A nossa cozinha nobre, a legítima cozinha da China.
- Tem razão, Sing Chen, até porque seria um despropósito o presidente Lula vir de tão longe pra comer picanha. Com certeza eles querem conhecer duas coisas: a nobre cozinha chinesa e as muralhas da China. Sing Chen , você sabe preparar um verdadeiro banquete de Beijing?
- Sim, senhor Cella! Nossa nobre cozinha observa três coisas: as cores devem ser variadas e bonitas; a textura é importante, com todas as peças cortadas em tamanho uniforme; e fundamental: os ingredientes devem ser frescos, produtos da estação.
- Ah!... isso eu já sabia, Sing Chen! Eu li num livro chamado "Conforte-me com maçãs", de Ruth Reichel, a crítica gastronômica do The New York Times. Um livro de memórias saborosas. Amor, aventura e os prazeres da mesa, onde num dos capítulos ela escreve sobre a gastronomia chinesa.
- Senhor Cella! Presumo que esta jornalista não estará presente ao banquete. A embaixada brasileira advertiu: não quer nenhum repórter do The New York Times no banquete.
- Compreendo. Mas vamos ao cardápio. O que você sugere, Sing Chen?
- Senhor Cella, de entrada poderíamos servir peles de porco finas, cortadas em quadrados e servidas em molho agridoce. As peles não fritas vamos cortas em tiras fininhas, bem fininhas, trançá-las, fazendo uma imitação de ninho de pássaro. Ou então rã com brócolis, ou água viva, ou cobra d'água caramelada, ou...
- Vamos nos acautelar, Sing Chen, e tirar certos pratos exóticos do cardápio.
- Carne de cachorro, por exemplo?
- Exatamente. Dona Marisa Letícia Lula da Silva contou numa rara entrevista que passou por uma situação constrangedora numa viagem à Índia, me parece. No banquete oficial, um garçom lhe ofereceu um prato de carne, que ela considerou muito esquisito. Como não sabe falar inglês, e nem o garçom falava português, a primeira-dama apelou para a linguagem universal: "Au, au?", ela perguntou. E o garçom respondeu no mesmo idioma: "Au, au!".
- Sim, e como dona Marisa Letícia recusou a carne de cachorro?
- No mesmo idioma. Ela torceu a boca e o nariz, de um lado para outro, e respondeu: "Huum, huum!".
Por Dante Mendonça
Cronista e cartunista, na selva da cidade é um caçador de histórias. Diariamente relata e comenta a notícia e o que não é notícia, o que faz e o que diz com espírito a nossa gente.
Fonte: http://www.parana-online.com.br/colunistas
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