segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A inacreditável história de um médico sem diploma


Hamilton Naki, um sul-africano negro, de 78 anos, morreu no final de Maio. A notícia não rendeu manchetes, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século 20. "The Economist" contou-a em seu obituário desta semana.
Naki era um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky, em dezembro de 1967, na cidade do Cabo, na África do Sul, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida.
É um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado. Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipa que fez o primeiro transplante cardíaco da história. Mas não podia aparecer porque era negro no país do apartheid.
O cirurgião-chefe do grupo, o branco Christian Barnard, tornou-se uma celebridade instantânea. Mas Hamilton Naki não podia nem sair nas fotografias da equipe. Quando apareceu numa, por descuido, o hospital informou que era um faxineiro. Naki usava jaleco e máscara, mas jamais estudara medicina ou cirurgia.
Tinha largado a escola aos 14 anos. Era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Mas aprendia depressa e era curioso. Tornou-se o faz-tudo na clínica cirúrgica da escola, onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos.
Começou limpando os chiqueiros. Aprendeu cirurgia assistindo a experiências com animais. Tornou-se um cirurgião excepcional, a tal ponto que Barnard requisitou-o para sua equipe. Era uma quebra das leis sul-africanas.
Naki, negro, não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu uma excepção para ele.
Virou um cirurgião, mas clandestino. Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia num barraco sem luz eléctrica nem água corrente, num gueto da periferia.
Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico honorário.
Ele nunca reclamou das injustiças que sofreu durante toda a vida. Este assunto foi matéria de quase todos os grandes jornais norte-americanos. Não se tem notícia da sua divulgação na imprensa portuguesa.
Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente. Aposentou-se com uma pensão de jardineiro, de 275 dólares por mês. Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico “honoris causa”.
Texto retirado de um maravilhoso PPS.Foto retirada do site:www.mdig.com.brColaboração de: Neide Borges

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