segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Como a primeira vez

Foi aprendendo a se acostumar com a situação de ter casado com um homem que não amava.
Não era nenhum sacrifício de outro mundo dormir e dividir o mesmo teto com seu marido.
Mas sempre faltou alguma coisa no relacionamento e ela não sabia explicar o que era.
Apesar dele lembrar de todas datas importantes, de ser amável quando ela ficava doente, do sexo ser bom, deles viajarem em todas as férias e dele ser muito respeitoso com ela até quando discutiam.
E isso a fazia sentir muito culpada, como se ela fosse um monstro insensível, uma ingrata, uma eterna insatisfeita. Sentia-se péssima ao se olhar no espelho.
E esse era o seu maior segredo.
Nem mesmo comentava com as melhores amigas.
Nunca gostou de expor seus sentimentos porque isso a fazia sentir-se desprotegida demais.
Por mais que gostasse de suas amigas achava que ninguém era digno de saber de seus segredos íntimos.
Os filhos vieram, um menino e uma menina, ótimas crianças, obedientes, ele um pai dedicado, ela uma mãe amorosa.
Formavam uma bela família, mas mesmo assim ela não se sentia plena e feliz, isso a massacrava todas as noites. Ela se martirizava com aquele sentimento.
Sentia-se mortificada por dentro, tentava sufocar aquele sentimento de todas as formas com trabalho, viagens e dedicação aos filhos.
Nunca deixou ninguém perceber.
Até que num dia que estava distraída tudo mudou.
Estava com a cabeça encostada no pilar do prédio onde trabalhava num final de tarde chuvoso.
O olhar perdido em algum lugar do tempo observava as gotas de chuva tocarem as poças.
Esperava por um táxi para levá-la de volta para casa.
Quando voltou a si e viu um táxi apontando na alameda, abriu o guarda-chuva caminhou e colocou-se na beira calçada acenando com o braço para que ele parasse.
O que ela não sabia é que uma outra pessoa também acenou para o táxi no mesmo momento.
O encontro deles foi um acaso nem tão por acaso assim.
Trabalhavam no mesmo prédio e já haviam se visto algumas vezes nos elevadores.
Mas nunca trocaram nada além de um “bom dia” ou um “boa tarde”.
Até então nada nunca chamou a atenção dele para ela e nem dela para ele.
Pegaram o mesmo táxi.
Ela notou um perfume marcante nele, uma fragrância forte e agradável.
Ele gostou dos cabelos e da maneira que eles tocavam os ombros dela.
Conversaram durante uma hora e meia, o trânsito estava especialmente terrível naquele inicio de noite.
Descobriram coisas em comum e uma atração discreta de um pelo outro.
Quando chegou em casa encontrou as crianças fazendo a lição de casa.
O jantar estava sendo preparado pela moça que já trabalhava lá por muitos anos e era uma espécie de governanta.
Participou da criação dos filhos e até viajava junto quando vinham as férias escolares.
Era praticamente um membro da família e era tratada como tal.
O marido estava na sala sentado lendo o jornal e tomando uma dose de Wisky como sempre fazia.
Deu um beijo no rosto dele.
Trocaram algumas palavras e ela foi tomar seu banho.
Durante o banho iniciou-se mais uma sessão de auto-tortura.
Ao se ensaboar ia se culpando pela vida perfeita que tinha e não ter a capacidade de se sentir satisfeita.
Como podia ter filhos estudiosos, um marido presente, uma bela casa, uma governanta ótima e não se sentir completa?
Deveria ter algo errado com ela.
Enquanto enxaguava seu corpo pensou no homem com quem tinha tomado o táxi .
Era um pensamento estranho, mas impossível de se calar.
Estava curiosa em saber o porquê que aquele homem havia despertado nela o interesse.
Tanto tempo sem sentir isso por outra pessoa tinha feito ela esquecer como era desejar alguém diferente de seu marido.
No dia seguinte não o encontrou nos elevadores.
A rotina de trabalho a absorvia totalmente e chegou mesmo a esquecê-lo.
Acabou se atrasando para almoçar com o grupo que sempre ia ao restaurante junto.
Foi sozinha então e escolheu uma mesa perto da janela, gostava de almoçar olhando as pessoas andando.
Absorta, não viu o objeto de seu recente desejo sentar-se na mesa da frente.
Quando virou a cabeça na direção dele ficou surpresa ao vê-lo acenando. Sorriu de volta, ficou sem jeito, voltou a ser a mesma menina tímida de olhar triste e misterioso que tinha sido na adolescência.
Ele almoçou rápido, estava com jeito de quem tinha algum compromisso profissional nos próximos minutos.
Mas antes de sumir pela porta do restaurante passou pela mesa dela, cumprimentaram-se com beijos no rosto.
Ele estava com aquele mesmo perfume marcante.
Ela com o mesmo cabelo solto tocando os ombros.
Tiveram uma conversa agradável e gentil.
Havia algo nele que a hipnotizava.
Depois ele se foi deixando nela o inicio de um desejo irrefreável e impossível de ser contido.
Encontraram-se mais uma vez naquele dia e novamente no final da tarde.
Não tinha chuva e sim um pôr-do-sol deslumbrante.
Parada no mesmo lugar de sempre ela aguardava o táxi para levá-la para casa. Acenou e quando o motorista parou percebeu que dentro já havia um passageiro.Era ele.
Diante de um convite para tomar um “Drink” não soube e nem conseguiu dizer não.
Ele tinha notado o interesse dela e colocou a sua natureza sedutora em ação.
Ela sabia disso, já tinha um plano de resistência pronto.
Mas foi tudo por água abaixo em duas horas.
Havia ligado pro marido dizendo que ia se encontrar com umas amigas e ele nem questionou, nunca tinha notado nele sinais de desconfiança ou de ciúmes excessivo.
Foram necessárias duas garrafas de vinho para que explodisse o desejo entre eles.
Quando se entregou não pensou em nada, apenas sentiu como se fosse a primeira vez.
Na manhã seguinte tinham rosas vermelhas enfeitando sua mesa de trabalho.
André Luiz Aquino

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