sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Minha primeira vez

Hoje, faz dez anos que Clarice, a malvadinha, me descabaçou. Eu, 19, virgem, ela, 17, sexualmente ativa há quatro. Estávamos saindo há cerca de três semanas. Ela me liga uma noite e diz que vai matar aula no dia seguinte pra passar a manhã comigo. Vai despistar o motorista (que tinha ordens de se certificar que ela de fato entrasse na escola) e me esperar na esquina.
E o que vocês acham que o idiota aqui fez? Dormi demais no dia seguinte. O despertador simplesmente não tocou. Quando acordei, desesperado, ela já estava me esperando. E na rua. Pior, não havia como entrar em contato com ela. (Nota aos mais jovens: a história se passa antes dos telefones celulares.)

Saí de casa desabalado. Eu, naquela época, dirigia, e muito mal, um Santana, que bati onze vezes ao longo daquele ano. Ainda nem tinha carteira, que só iria tirar no ano seguinte. Nunca dirigi tão mal, nem tão desesperadoramente.

Finalmente, cheguei lá, e ela estava placidamente me esperando. Nem deu esporro nem nada. Entrou no carro e disse que queria ir pra minha casa.

Na época, eu morava com meu pai e minha irmã em um apartamento de quatro quartos na praia da Barra. Alguns meses antes, meu pai tinha dado a mim, 19 anos, e a minha irmã, 17, uma cama de casal pra cada um e a chave do quarto.

De modo que, o quarto que ela queria ir não era qualquer quarto. Era um quarto com TV no teto, vídeo, aparelho de som, cama de casal, vista pro mar e chave na porta, na casa de um "adulto" que passava o dia inteiro fora.

Chegando lá, ela sugeriu, para minha imbecil surpresa, que queria ficar sem camisa, tirou a dela e tirou a minha. Dali pra diante, as coisas não tinham muito pra onde ir a não ser pra onde foram.

Mas nada na minha vida é simples.Naquele mesmo momento, sem que eu soubesse, pois estava com coisas mais importantes na cabeça, minha irmã estava ardendo em febre no quarto ao lado, com as amígdalas inflamadas e minha mãe tinha vindo cuidar dela.

Então, às onze da manhã de 19 de outubro de 1993, enquanto eu penetrava suavemente a Clarice, minha mãe, a pessoa mais liberal do mundo, que nunca teria batido na porta se soubesse que eu estava perdendo a virgindade naquele momento, pediu, por favor, pra eu sair e comprar frango fresco pra fazer uma canja pra minha irmãzinha doente.

Pronto, lá se foi o clima. Eu pedi pra minha mãe voltar depois, e ela até atendeu, mas a Clarice já tinha desmontado e começado a se vestir.

E assim acabou a minha primeira vez. Fomos os dois comprar ingredientes pra canja da minha pobre irmã, que no fim da tarde piorou e, à noite, foi operada de emergência pra retirar as amígdalas.

Quando minha mãe soube o que tinha feito, quis pedir desculpas pessoalmente à Clarice, mas eu não deixei. Alguns meses depois, minha mãe voltou pra nossa casa. Ela e meu pai moraram juntos por mais seis anos, apesar de estarem divorciados, o que foi uma experiência muito interessante. Afinal, éramos quatro adultos solteiros e desimpedidos, morando juntos, cada um com seu quarto, sua chave, sua cama de casal e seu carro.

Eu e Clarice fomos visitar minha irmãzinha no hospital à noite e ficamos juntos por mais um mês. Não digo namorando, pois não éramos namorados: ela já tinha um namorado, de seis anos. Eu era o outro. Ela jurava que o titular não sabia de mim, mas até hoje eu tenho certeza que ele sabia e deixava.

Mas enfim. Continuamos amigos até hoje. De vez em quando, jogamos tênis juntos, mas ela nunca mais me ligou para, como ela mesmo dizia, "falar maldade". Ou porque perdeu o gosto pela coisa ou (mais provável) porque nossa intimidade já não é mais o que era.

Seus pés eram lindos, de solas sempre deliciosamente amarelinhas, mas não me deixava brincar com eles, a não ser em ocasiões muito especiais. Dizia se sentir nua estando descalça na minha presença.

Tenho saudades da minha malvada mais autêntica.
Por Alex Castro
http://www.sobresites.com/alexcastro/artigos/primeira.htm

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