terça-feira, 4 de novembro de 2008

Por favor, apertem os cintos

Que estranho e irresistível fascínio é este que as aeromoças exercem sobre nós, homens e mortais passageiros?
Ou vai me dizer que você também não tem um certa tara, uma vontade quase que incontrolável de ter um caso com dessas profissionais do ar?
Qual é o homem que nunca deixou o cotovelo propositadamente no corredor do avião, na sutil esperança de uma leve raspadinha na apressada moça? Qual é o homem que, lá nas alturas, fingindo ler o jornal, não fica de olho torto para elas? Qual é o homem que não sonha acordado imaginando tenazmente que ela, junto com a última cervejinha, coloque dentro do guardanapo um cartão de visitas? Qual é o homem que não sonha um dia contar para um amigo: transei com uma aeromoça! Qual?
Que fascínio é esse? Preocupadas com o possível assédio masculinos, as companhias aéreas - de todo o mundo - fazem de tudo para transformar aqueles aviões em seres normais. Colocam uma saia escura onde as curvas se perdem e o joelho some, vestem um blusa meio fofa onde seios desaparecem, amarram os cabelos para cima e ainda por cima, colocam um crachá com um nome falso no peito. Mas nós homens, temos certeza que, por trás daquele uniforme de guerra, esconde-se uma grande guerreira de terra, mar e ar. A gente sabe - ou imagina - que elas são gostosas. Toda aeromoça é gostosa, por princípio, meio e fim. Até o fato delas usarem outro nome - como as freiras e as prostitutas - é excitante.
E não são apenas as aeromoças brasileiras que nos fazem viajar com a imaginação. Também as azafatas (aeromoça em espanhol) ou as hospedeiras (aeromoça em Portual). Não seria bonito dizer que anda saindo com uma azapata de salto delicadamente alto ou que levou para o hotel uma hospedeira? Mesmo as americanas, sempre carrancudas, levam o seu charme na bandeja da esperança. E as francesas dizendo pardon, monsieur? E aquelas da Lufthansa que dá vontade da gente pedir para que pisem nos nossos pés com seus um metro e oitenta e cinco?
Qualquer psicólogo de esquina poderia dizer que esta fascinação é porque nós nos sentimos - durante as poucas horas de vôo - nas mãos delas, dependemos delas para tudo. Seriam nossas mães, digamos assim. Mas não é como mãe que as vemos e sim como possíveis amantes. Como deslizam fácil pelo carpete central dentro das nossas turbulências mentais!
São estranhas essas moças. Não sei de ninguém que conheça uma aeromoça fora do ar. O máximo que a gente sabe delas é que se arrastam em duplas pelos aeroportos, puxando as suas malinhas - sempre cinzas - sobre rodinhas. Depois entram num taxi e somem. Sim, somem. Ou você sabe de alguém que é vizinho de uma aeromoça? Ninguém sabe onde moram essas meninas. Ninguém nunca viu uma hospedeira numa festa, numa peça de teatro ou mesmo fazendo compra num shopping. Fora do ar, elas evaporam. Você, por exemplo, já viu alguma azapata no seu, digamos, convívio social? Tenho certeza que não. Chego a desconfiar que elas não existem. São alucinação causadas talvez pelo ar despressurizado.
Devo ser um privilegiado, pois já vi duas aeromoças. A primeira quando estava hospedado no Hotel Miramar em Recife fazendo um trabalho profissional junto com mais quarenta pessoas. Um amigo me disse que as aeromoças da VASP estavam hospedadas no hotel. Foi um frisson entre os homens. No mesmo dia um colega disse que aquela mais alta, loira, tinha uma tatuagem na virilha. Ele tinha visto na piscina. Comprei óculos de natação e fui conferir num vôo aquático. Tinha. Tinha um Boing tatuado na virilha dela que, enquanto ela ficava a fazer movimentos com as pernas para se manter à tona, parecia que o Boing batia asas e voava na minha direção. Só o Boing. O avião, não. Quase morri afogado.
E a outra vez foi no bingo. Estávamos quatro homens na mesa e uma moça. Uma moça normal, nem feia nem bonita, nem magra nem gorda, nem baixa nem alta. Uma moça absolutamente normal que não suscitava nem um olhar de esgueio de nenhum de nós. De repente, chegou uma amiga dela. Nos primeiros diálogos, ficamos os quatro sabendo que eram aeromoças. Como a moça cresceu, como ficou bonita, gostosa, simpática. Que pernas, que seios, que pele, que narizinho arrebitado, que voz, meu Deus! Os quatro homens ficaram transtornados com a presença de duas - duas! - aeromoças ali, tão perto. Mas, assim como na piscina, ninguém teve a coragem de puxar papo, pedir mais um uísque ou perguntar a temperatura local. Não se conversa com uma aeromoça fora do ar, admira-se boquiaberto. E mais: ela fez um bingo, provando, definitivamente, que são seres sobrenaturais, acima de nós, sempre a dez mil metros de distância de nós, pobres terráqueos.
Que estranho e irresistível fascínio é este que as aeromoças exercem sobre nós, homens e mortais passageiros?

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