Luís Santana
Não havia quem não estranhasse a forma como Gastão tratava Amélia. A mulher era só gentileza para com todos e a ele esmerava-se em tratá-lo bem.
Passava impecavelmente as suas camisas; lhe preparava os pratos e quitutes preferidos; pontualmente fazia as apostas na loteria e apostava os seus números de fé no jogo do bicho. Amélia era incapaz de se servir do jantar sem a presença dele; mantinha intocados os jornais de domingo até que ele houvesse por eles passado os olhos.
Recebia com cortesia os seus colegas de carteado, nunca demonstrando o seu descontentamento em ver o apartamento totalmente tomado por fumaça de cigarro.
E o que se via em troca ou se ouvia vir da boca de Gastão, a todos constrangia.
Expressões como: “aquela lá” usada na ausência dela ou “essa aí” na presença mesmo, “jabiraca” pros colegas de trabalho, “mãe dos meninos” pros familiares; “minha cruz”, “cicrana” e “criatura” em tantas outras ocasiões. Eram as mais constantes no seu extenso repertório de demonstração de desapreço pela própria mulher.
Até as crianças já haviam se dado conta do comportamento de Gastão, e o neto menorzinho durante um almoço de domingo lascou implacável a sua inquisição.
- Vô, por que você não gosta da vovó?
Na certeza de estar na segurança do lar e poder contar com a cumplicidade da família, Gastão se desfez da carapuça de insensível e tratou de abrir seu coração.
- Sou um homem que sempre deu muito duro e conseguiu conquistar algumas coisas, porém ao longo do tempo ficou bem claro que sou um péssimo administrador e cada vez mais vivo enrolado com problemas de grana. Não posso ter nada no meu nome porque devo a três financeiras e a quatro bancos, isso sem falar no IPTU que jamais paguei e no Leão do imposto de renda que faz tempo ronda à minha espreita.
- Agora me diga você, moleque; se de repente um desses credores ouve eu por aí chamando a sua avó de “meu bem” e daí vêm e a tomam de mim?
- Como é que eu fico?
Passava impecavelmente as suas camisas; lhe preparava os pratos e quitutes preferidos; pontualmente fazia as apostas na loteria e apostava os seus números de fé no jogo do bicho. Amélia era incapaz de se servir do jantar sem a presença dele; mantinha intocados os jornais de domingo até que ele houvesse por eles passado os olhos.
Recebia com cortesia os seus colegas de carteado, nunca demonstrando o seu descontentamento em ver o apartamento totalmente tomado por fumaça de cigarro.
E o que se via em troca ou se ouvia vir da boca de Gastão, a todos constrangia.
Expressões como: “aquela lá” usada na ausência dela ou “essa aí” na presença mesmo, “jabiraca” pros colegas de trabalho, “mãe dos meninos” pros familiares; “minha cruz”, “cicrana” e “criatura” em tantas outras ocasiões. Eram as mais constantes no seu extenso repertório de demonstração de desapreço pela própria mulher.
Até as crianças já haviam se dado conta do comportamento de Gastão, e o neto menorzinho durante um almoço de domingo lascou implacável a sua inquisição.
- Vô, por que você não gosta da vovó?
Na certeza de estar na segurança do lar e poder contar com a cumplicidade da família, Gastão se desfez da carapuça de insensível e tratou de abrir seu coração.
- Sou um homem que sempre deu muito duro e conseguiu conquistar algumas coisas, porém ao longo do tempo ficou bem claro que sou um péssimo administrador e cada vez mais vivo enrolado com problemas de grana. Não posso ter nada no meu nome porque devo a três financeiras e a quatro bancos, isso sem falar no IPTU que jamais paguei e no Leão do imposto de renda que faz tempo ronda à minha espreita.
- Agora me diga você, moleque; se de repente um desses credores ouve eu por aí chamando a sua avó de “meu bem” e daí vêm e a tomam de mim?
- Como é que eu fico?
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