segunda-feira, 1 de junho de 2009

Simplicidades



De Lusa Silvestre

Outro dia fui num shopping, e acabei precisando fazer um cheque. Coisa simples, fazer um cheque. Você escreve o valor, assina, põe uma data, destaca, cruza, anota o telefone atrás, e depois aguarda triste e ansioso a compensação. Hoje em dia, é uma das poucas oportunidades de praticar a escrita à mão. Fui logo tirando o talão da carteira, quando a vendedora avisou: a máquina preenche. Entreguei a ela o cheque, ainda vazio. A máquina engoliu minha folha. Devolveu dez minutos depois, amassada. Destaquei outra: desta vez imprimiu. Mas no verso do cheque. Rasguei, destaquei outra: imprimiu do lado certo, mas o valor por extenso exatamente em cima do código da compensação. Paguei em dinheiro.

Demorou tanto para a compra de realizar, e tomei tanta água pra me acalmar, que em seguida tive que ir às retretas. Aliviar. Entrei no banheiro, fiz o que o dever pedia, lavei a mão - asseado que sou - e procurei a toalhinha de papel pra me secar. Não tinha toalhinha de papel. Tinha máquina de secar a mão. A primeira dificuldade foi exatamente saber onde ligar a máquina. Não tem botão de liga/desliga. Você pôe a mão lá debaixo da ventoinha, e esperar ela ligar sozinha. Ligou. Veio aquele vento quente, aquele bafo desconfortável. Começou a soprar a minha mão. Pensei: pô, se fosse pra soprar quente, faria eu mesmo - que sei onde ponho a boca. A máquina desligou sozinha, e a minha mão continuou molhada. Talvez até mais, porque além da umidade da pia, tinha agora o próprio suor da mão. Não consigo ser soprado quente sem suar. Liguei a ventoinha de novo, enfiei a mão lá outra vez. Necas. Enxuguei a mão na calça.

Aproveitando que a mão estava limpa - sujeito prático que sou - fui comer um sanduíche. Sentei-me numa dessas lanchonetes de hambúrguer, numa dessas pracas de alimentação. Pedi um x-egg - para a surpresa do chapeiro. Ninguém pede um x-egg assim, de peito aberto. É um sanduba em desuso. Veio o x-egg. Pedi catchup e mostarda, esperando os tubos gloriosos, as verdadeiras bisnagas, uma instituição da lanchonete - junto com a televisão de guardanapos. Vieram dois saquinhos, um de catchup e outro de mostarda. Desprevenido, eu já tinha pego o sanduíche com as duas mãos, e se você já pegou um x-egg com as próprias mãos, sabe que elas ficam besuntadas igual assadeira prestes a ir pro forno. Mãos besuntadas ficam sem a capacidade de fricção e agarro. Até um carangueijo perderia o poder das garras depois de pegar um x-egg na mão. E foi com mãos assim que tentei abrir os saquinhos de catchup. Imagine. Tive que apelar para os dentes. Um sacrifício enorme, e pra quê ? Pra conseguir dez milílitros de catchup. Não cobriu nem o espaço de uma dentada.

Cansei. Resolvi ir embora. Peguei o elevador, que - incrível - continua a mesma coisa; basta apertar um botão e pronto. Desci no estacionamento, entrei no carro, tentei ir embora. Na hora de sair da garagem, a cancela não levantou: eu não tinha pago o estacionamento. Tentei argumentar, mas a máquina ali da cancela só respondia os meus argumentos com um "obrigado por visitar o Shopping Pátio Higienópolis". Saí dali e voltei para pagar o cartão. Fui procurar uma vaga pra estacionar, porque ninguém quis esperar ali na fila de carros eu correr até o guichê de pagamento. Rodei vinte minutos, não achei a vaga. Larguei o carro no meio do corredor. Está lá até hoje. Um dia volto para buscar. Mas tenho que tirar dinheiro antes: ainda não paguei o estacionamento.

http://blonicas.zip.net

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