terça-feira, 16 de junho de 2009

Vida Alternativa


Ivan Ângelo

Na década de 60, falar em vida alternativa era o máximo. Boa parte dos amigos caiu do cavalo. Uma amiga largou tudo para viver em uma praia da Bahia. Era lindo, romântico. Acabou casada com um pescador. Passou as últimas décadas fritando peixe e brigando quando ele demorava para chegar em casa. Um universitário comprou um sítio, para ficar mais próximo da natureza. Quase teve uma insolação na primeira colheita. Devido a experiências tão didáticas, durante um bom tempo não se falou mais no assunto. Sucesso profissional era o que mais contava! Sinto que a idéia de uma vida alternativa voltou com força total. Mas esqueceu-se a obrigação de viver sem luz elétrica enquanto se come nabo com molho de soja. No verão, sempre cruzo com gente que vive nesse novo estilo. Nas praias, muitas vezes nas montanhas.

Vera vive em Camburi, no Litoral Norte. Largou faz tempo o ABC paulista. Vende plantas. Possui um terreno enorme na região mais próxima à montanha, com as plantas mais exóticas de que já tive notícia. Há algum tempo, eu me apaixonei por uma enorme bromélia florida.

– Não posso vender – explicou Vera. – Quando a flor seca, esse tipo de bromélia morre. Seria desonesto.

Adorei a franqueza. Fui à casa dela, na montanha. Vive em jardim suspenso, cercada por plantas incríveis. Comentei:

– Não é muito solitário?

– Aqui as coisas são diferentes! Veja!

Dito isso, mostrou uma foto. Vi um gnomo, de chapeuzinho e tudo mais. Pisquei. Não, parecia um beija-flor. Pisquei novamente. Era um gnomo! Fiquei em dúvida.

– Há quem diga que fotografei um beija-flor. Para mim, será sempre um gnomo! - garantiu ela. – Como posso me sentir sozinha se estou cercada por gnomos?

Um amigo largou a vida de administrador de empresas. Tornou-se massagista. Armou uma barraca de massagem na praia. Nos dias de sol faziam fila! Alugou uma casa por lá. Deixou a cidade grande.

– Na temporada ganho bem. Fora dela vou levando – explicou. – Só de acordar ouvindo passarinhos a vida já vale a pena.

Outro transformou o hobby em profissão. Tornou-se marceneiro. Montou uma loja de móveis artesanais em Juquei. É a Freijó, onde existe também um bar. Não quer outra vida:

– Faço meus móveis, curto o bar... Para que esquentar a cabeça?

Há quem se dedique a restaurantes. Em geral, pequenos e caros. Montam com uma estrutura mínima e grandes artifícios culinários. Alguns se tornam até famosos, como o Edinho, do restaurante Manacá, também em Camburi. A casa virou um point gastronômico de todo o litoral.

Um pequeno empresário desistiu do escritório e resolveu se dedicar aos tapetes artesanais em Itapecerica da Serra. Apesar da concorrência dos persas Mário anda feliz:

– Faço o que quero, é mais criativo!

Uma bailarina na Granja Viana passou um bom tempo assando pães caseiros. Duas amigas sobreviveram anos fazendo bolos de canela. Conheci uma cantora de sucesso que chegou a descer de helicóptero para apresentar-se no Estádio do Pacaembu, lotado. Enquanto rebolava, entortando a boca ao som do play-back, pensou: – "O que estou fazendo aqui?" - Largou tudo. Foi estudar ioga. Hoje, tem um spa alternativo na região de Campos do Jordão. À base de comida vegetariana, muita meditação e paz de espírito.

O mais interessante: na prática, boa parte dessa turma que optou pelo alternativo vive bem. Certamente se diverte mais. É uma prova de que, puxa vida, o sonho não acabou!

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails