terça-feira, 4 de novembro de 2008

Aquele Bar - Para o Bar do Mário...

- Mas, está aberto?
Era – e é e será – o único bar do mundo que a gente nunca sabia se estava aberto ou fechado. Tinha que arriscar. Podia dar sorte.
O Bar do Mario, lá na Floriano Peixoto, uma das mais extensas avenidas de Lins, no interior de São Paulo. Normalmente não estava aberto. E não adiantava bater na janela do Mario – que morava no fundo do bar com a mãe e uma porção de irmãos e irmãs – que, se estava fechado, fechado ficava.
Tudo japonês.
Jamais saberemos porque o Mario não abria o bar de vez em quando. Ou de vez em sempre. Às vezes, não abria apenas por um dia. Outra, ficava uma semana fechado. Um mês. E, ultimamente, meses. Não abria e pronto.
O mais interessante é que, mesmo com isso, nunca perdeu a freguesia. Se aberto estava, aberto ficava até o sol bater na porta. Era – e é e será – o bar dos boêmios da minha cidade. Outra característica: o Mario nunca explicou a sua idiossincrasia para abrir ou fechar o bar. Mesmo porque, duvido que ele saiba o que é idiossincrasia.
O Mario fazia um sanduíche que era para disfarçar as milhares de garrafas de cerveja – estupidamente e casco escuro – que a gente consumia. O sanduíche – o melhor que já comi na minha vida – não tinha nome. Era sanduíche mesmo. E mais: só tinha aquele. Daqueles que comidos escorrem pelos dedos, pelo pulso, vai caindo coisa na calça e depois a gente ainda chupa os dedos. Era um sanduíche que a gente comia e bebia. Era quase líquido.
Tinha de tudo o sanduíche. Ali, dentro do pão da padaria da esquina, você podia encontrar um bife, ovos, alface, cebola, moscas, bacon, presunto, molho japonês e – pasmem – peixe cru. Tudo feito numa rapidez incrível pelas mãos do Mario, nem sempre muito limpas. Às vezes a irmã, o irmão ou a mãe se arvoravam a confeccionar o sanduíche. Mas não era a mesma coisa. Faltava a cabeça do Mario. E, sejamos sinceros, alguns fios de cabelo.
Estou contando essa história toda porque outro dia eu estava passando ali numa rua do Itaim, em São Paulo, e vi lá uma placa. Bar do Mario. Como o do japonês: sem acento. Parei e entrei. Esse Bar do Mario estava aberto e era madrugada. Espanto: lá dentro, umas duas ou três gerações de linenses. Aqueles mesmo amigos lá do interior. Muitos sanduíches depois, muitas vidas passadas a limpo, muitas barrigas acima da cintura (e abaixo), muita história pra contar, a verdade.
Foi isso. Todos aqueles freqüentadores do bar lá do interior se juntaram e resolveram abrir um bar aqui, em homenagem ao meu xará. E trazer, pra cá, o Mario Japonês para, sem falta e já sem cabelos (comemos todos eles) fazer o seu sanduíche pra turma da capital.
O Mario topou. Só que nunca se sabe se o Mario veio ou não naquela noite. Às vezes falta um dia, uma semana, um mês. Mas quando vem...
E, como sempre, há mais de quarenta anos, não dá a menor explicação. Mesmo porque nunca ninguém perguntou o motivo dos seus fechamentos e desaparecimento.
Tem gente que freqüenta o sanduíche há três décadas e nunca teve a felicidade de encontrar o Mario. Dizem até, as más línguas, que o Mario não existe.
Posso garantir que já vi o Mario algumas vezes. Tanto no bar de Lins – quando abria – como no do Itaim, quando ele vem.E – acredite quem quiser – sei o nome inteiro do Mario. Mario Sumio.
Por Mário Prata

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