quarta-feira, 3 de junho de 2009

Só quem já experimentou um banheiro japonês entende...

por Bruna Siqueira Campos - no blog Panorama Nihon

Eu tenho medo do botão vermelho. Aliás, de todo e qualquer botão acompanhado por kanjis e que esteja em um cantinho isolado da parede - principalmente se for dentro de um banheiro público japonês. Pode apostar que é encrenca na certa.

Você deve estar pensando que sou meio louca de falar isso, mas acredite: quem vive deste lado do mundo sabe que apertar em botões "suspeitos" é correr o risco de enfrentar o maior mico.

Eu tirei a prova dos nove há algumas semanas, quando fui ao banheiro público que fica em frente à estação de trem do meu bairro. Já era quase 1h da manhã, eu ainda teria de pegar a bicicleta e encarar mais uns 15 minutos de estrada até chegar ao “lar doce lar” – pois é, o país parece pequeno, mas é só impressão. Voltando ao assunto, a minha bexiga não ia aguentar. Até aí tudo bem, se não fosse por um detalhe: onde é que era a descarga?

Sim, companheiros, os japoneses têm o péssimo hábito de criar descargas quase secretas nos banheiros femininos. É um suplício só. Custa fazer um botão ao lado do vaso sanitário, só para facilitar a vida de estrangeiros analfabetos como eu? É um tal de botão com música para imitar o barulhinho do xixi, botão que lava, que seca, que joga jatos fortes de água, jatos fracos… E o tal do botão vermelho, que, às vezes, para nos deixar menos tensos, vem com advertências em inglês. Mas só às vezes. Porque ele também gosta de se disfarçar de outras cores, o que piora a situação para o nosso lado.

Para quem ainda não entendeu qual é a função dele, explico: esse botãozinho serve para pedir ajuda, caso alguém esteja passando mal entre as quatro paredes. Parece engraçado, mas deve ser realmente útil em um país com tantos idosos – e também para evitar estupros e outros tipos de crimes, o que aprovo em gênero, número e grau.

A tecnologia só deixa de ser útil quando vira sinônimo de “abacaxi do ano”. No meu caso, foi apertar o danado porque já havia tateado todos os cantos do banheiro e não tinha encontrado a descarga. Então resolvi arriscar. É, deu errado. Ah, adivinha onde era a descarga? No pedal do lixeiro! Aí é demais, né?

Gente, eu nunca ouvi uma sirene tão alta em to-da-a-mi-nha-vi-da! Em questão de segundos, já tinha um policial na porta do banheiro querendo saber o que tinha acontecido, meu marido estava gritando meu nome, e eu, claro, morrendo de rir, sem conseguir dizer uma palavra. Quando saí, pedi desculpas e vi que os motoristas de ônibus também estavam tirando o maior sarro. Acho que só escutei uma sirene parecida quando andei de ambulância aqui no Japão (mas isso é assunto para outra história, prometo que conto depois. Haha!).

Como eles dizem por estas bandas, “shoganai”, não há o que fazer, acidentes acontecem. Tenho uma amiga de São Paulo que foi a uma casa de banhos com a tia e, tempos depois, saiu do ofurô para fazer xixi (ele, sempre o bexiguento líquido amarelo!). Vocês acreditam que ela se confundiu com a porta e abriu a do escritório em vez da do banheiro, completamente nua?

Imagina a cena: um cara digitando ao computador e uma estrangeira abre a porta sem nem uma folha de parreira para cobrir as suas “vergonhas”, como diria o meu bisavô. É de gargalhar, né?

Mas calma, que ainda tem mais. Eu também preciso contar a saga enfrentada por um amigo carioca por causa… dos banheiros japoneses. Ou melhor, do amor à primeira vista pela privada japonesa, a mega-ultra-max Toto, marca que acolhe metade dos bumbuns deste país.

Como falar de tecnologia na Terra do Sol Nascente é redundante, a privada não só tem dezenas de botões como pode até falar, no caso de algumas mais high-tech.

Levantam a tampa sozinhas, explicam a operação passo-a-passo (vou enxaguar, tá querido?), dão descargas sem que ninguém peça e acionam a musiquinha do xixi automaticamente - tudo na mais perfeita harmonia. Tanto que esse amigo foi até a minha casa e se apaixonou pela minha privada, apesar dela não ser tão chique quanto as que já vi por aqui. Resultado: ele aproveitou as ferias em Tóquio e comprou uma também.

Seria trágico, se não fosse cômico. O plano era se desfazer do pacote antes de embarcar para a China, onde ele iria continuar a viagem, mas o tamanho da caixa ultrapassou o limite permitido pelos correios e ele não conseguiu enviar a privada pelo sedex. Desembrulhamos tudo na agência mesmo, colocamos numa caixa menor, mas não deu. Acho que a bacia sanitária era grande demais para a bolsa do carteiro.

Não teve jeito e a privada pegou o avião debaixo do braço dele e foi conhecer Shanghai, Beijing e mais um monte de cidades do país vizinho. Lá, também não teve conversa com os correios e a parada seguinte foi Nova York, último lugar das férias. A sorte é que nos Estados Unidos não houve problema: afinal, tudo que sai do Tio Sam é grande mesmo...



Esse seria um final feliz para o troninho tecnológico e seu dono, se não fosse por um detalhe: ele descobriu que ainda precisava de um adaptador, porque o padrão de tomada é diferente do usado no Brasil. Lá vai o meu pobre amigo comprar pela internet, aguentar a ansiedade, abrir o pacote, instalar tudo e… nada. Mais uma vez.

Pudera, o manual do fabricante era todo em japonês e não estava muito fácil entender o que eles mandavam fazer. Mas como brasileiro não desiste nunca – já diria o nosso slogan predileto -, posso dizer a vocês que a operação não foi em vão. Ok, ele não virou um primo distante do MacGyver e transformou uma casca de banana em dinamite, mas correu para os tradutores on-line, aprendeu alguns kanjis e ainda hoje se surpreende com a quantidade de funções que a privada tem. Quem foi mesmo que disse que o cão é o melhor amigo do homem?

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