quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Pequeno Diário da Palavra


Toda palavra tem um oco
uma fenda uma avessa
claridade
de onde as formigas emigram.

Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.

Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.

O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.

Toda palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas do terreiro.

Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar
sem doer um grão de arroz
por sob a língua.

Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.

Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem.

Iacyr Anderson Freitas

Fonte: algumapoesia

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails