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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Saudades


Saudades! Sim… Talvez… e porque não?…
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?… Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela  Espanca

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Folhas Secas

Imagens da semana382 103

Vejo-as e são muitas
O vento as jogou no chão
Já anunciam o outono
Agora a nova estação
São de vários tamanhos
De tons diversos de marrom
Algumas quase já em decomposição
Mas todas me chamam a atenção

Antes, eram verdes e bonitas
De uma diversidade de tons
Sinônimo de vida e beleza
e com determinada função

Suas vidas são efêmeras
Tais quais algumas vidas
Mas cada qual no seu tempo
Cada ciclo viverão

Agora, vejo-as tristes
Todas espalhadas pelo chão
Ninguém ainda as juntou
Acham que serventia não têm não

Mas aos olhos de alguém
Significativas serão pois
O poeta as vê com sensibilidade
E as retrata com emoção

O pintor as vê e as coloca
Singelas e lindas numa tela
Ou esboça um simples desenho
Mas as vê com o coração

O artista plástico as vê
Com os olhos de criação
Elaborando cada detalhe
Que realça sua obra então

E quando achamos então
Que para mais nada servem
Basta colocá-las na terra
E bom adubo serão

E a missão continua
Vão ajudar a gerar novas vidas
Novas plantas as quais belas
Majestosas e úteis serão

Enfeitarão as ruas da cidade
Serão habitat dos pássaros
Os quais alegrarão o ambiente
Cada um com seu canto

Sombra e abrigo serão
E alimentos também
Para alguns animais
Até para os homens

Agora estas folhas secas
Deixam-nos uma grande lição
A de que a seu tempo cada um
Temos a nossa missão! 

de Maria Alice Oliveira
Belo Horizonte - MG -

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mar

Fonte: Fotografia de Jamie Beck  annstreetstudio.com
" Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
   A tua beleza aumenta quando estamos sós.
   E tão fundo intimamente a tua voz
   Segue o mais secreto bailar do meu sonho
   Que momentos há em que eu suponho
   Seres um milagre criado só para mim."
   Sophia de Mello B. Andresen

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Poesia e Bonsai



Poesia é como Bonsai
Mesmo pronto...
Corta aqui,
Corta ali,
Acolá.

Espia!
Olhos atentos,
Cresce para direita
Conserta à esquerda
Corta por debaixo,
São os olhos do
Criador.

Tal e qual,
O poeta
Em seu olhar,
De sonho e magia,
Admira a sua cria.


Antonio Tavares

Cachoeira



Cachoeira em flor
deixa na vida
mais ardente o amor.
Não existe algo mais lindo do que…
água corrente
sobre pedra.
Água cristalina
em livre queda…
quando a natureza assina!


Jozeddonato

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Navegando

Sinemagrafii (23 fotos)
Foto de Jamie Beck

Voam as gaivotas,
O mar bravo está;
Um pequeno barco navega
Sem saber, ao certo,
Onde está.
De noite,
Na escuridão,
O medo assola,
E a solidão
- Espera o amanhecer -
Quer ver romper o dia,
Tem vontade
De novas águas
Tem necessidade de conhecer...
O barco
Pequenino,
- Nada visível -
Dentro de si transporta
Aquilo que o move;
- É invisível -
No entanto,
Digno de nota:
Uma ânsia de querer
Rumar por novos mares,
Ser feliz,
Navegando,
A sentir
O mar pulsando,
Ao sabor do vento,
E da vida,
Com delicadeza
O abraçando.

(Paula Coelho, 5 de Abril de 2011)

Fonte: emjeitodepoesia.blogspot

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Poema para Saramago

Quando chegares aos céus
não mais terás consciência
para percebê-lo.
Serás etéreo, vapor,
nuvem passageira.
No entanto, também serás
a essência preservada
da natureza,
simples circunstância.
O teu, era um sonho
terreno, consistente,
feito em rocha,
não mais caberia
nas nuvens.
O que te alimentava
era o desvendar
e a recriação constante
do código dos homens.
Nada era definitivo
e a verdade escondia-se
nas entrelinhas.
Talvez tenhas sido
o bobo da colina
ou o último guardião
das possibilidades negadas.
Teu vulto frágil
era assustador
e o verbo, desde
o princípio, recusava
o sonho inútil
e o tempo desperdiçado.

Clóvis Campêlo

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Música de Cada Um


Há no coração de cada um de nós, por essência, uma música que é somente nossa, inigualável, intransferível. Por várias razões, conhecidas ou não, às vezes aprendemos desde muito cedo a diminuir, gradativamente, o seu volume e inventar ruídos que nada tem a ver com ela para nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros. Até que chega um tempo em que desaprendemos a entrar no nosso próprio coração para ouvi-la e, porque não passeamos mais nele, porque não a ouvimos mais, não é raro esquecermos completamente que ela existe. 

Mas, como toda ignorância, toda indiferença, toda confusão, não são capazes de apagar a beleza original dessa partitura impressa na alma, ela continua tocando, ainda que de forma imperceptível. Continua tocando, à espera do dia em que, de novo ou pela primeira vez, possamos aumentar o seu volume, trazê-la à tona, compartilhá-la. Continua tocando, e alguns são capazes de escutá-la mesmo quando não conseguimos.

Todo encontro genuíno de amor é também o encontro de duas pessoas que conseguem ouvir a música uma da outra e sentir alegria e descanso com aquilo que ouvem. Conseguem ouvir, não importa quantos ruídos tenham inventado pelo caminho para se proteger da dor afastando a vida.

Ana Cláudia Saldanha Jácomo
In Cheiro de Flor Quando Ri

Conduta e Poesia


Quando o tempo nos vai comendo com o seu relâmpago quotidiano decisivo, as atitudes fundadas, as confianças, a fé cega se precipitam e a elevação do poeta tende a cair como o mais triste nácar cuspido, perguntamo-nos se já chegou a hora de envilecermos. A hora dolorosa de ver como o homem se sustém a puro dente, a puras unhas, a puros interesses. E como entram na casa da poesia os dentes e as unhas e os ramos da feroz árvore do ódio.

É o poder da idade, ou proventura, a inércia que faz retroceder as frutas no próprio bordo do coração, ou talvez o «artístico» se apodere do poeta e, em vez do canto salobro que as ondas profundas devem fazer saltar, vemos cada dia o miserável ser humano defendendo o seu miserável tesouro de pessoa preferida?

Aí, o tempo avança com cinza, com ar e com água! A pedra que o lodo e a angústia morderam floresce com prontidão com estrondo de mar, e a pequena rosa regressa ao seu delicado túmulo de corola.

O tempo lava e desenvolve, ordena e continua.

E que fica então das pequenas podridões, das pequenas conspirações do silêncio, dos pequenos frios sujos da hostilidade? Nada, e na casa da poesia não permanece nada além do que foi escrito com sangue para ser escutado pelo sangue.

Pablo Neruda
In Nasci para nascer, 1981

Primavera


A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Cecília Meireles

In Obra em Prosa - Volume 1

XVII - Um Hemisfério Em Uma Cabeleira



Deixa-me aspirar durante muito tempo, muito tempo, o odor de teus cabelos e mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem com sede na água de uma fonte, e agitá-los com minha mão como um lenço perfumado para dispersar as lembranças no ar. Se pudesses saber tudo o que vejo! Tudo o que sinto! Tudo o que percebo em teus cabelos! Minha alma viaja sobre esse perfume como a alma de outros homens sobre a música.

Teus cabelos contêm todo um sonho, cheio de velas e mastros; eles contêm os grandes mares para onde as monções me levam, os climas charmosos onde o espaço é mais azul e mais profundo; onde a atmosfera é perfumada pelas frutas, pelas folhas e pela pele humana.

No oceano de tua cabeleira entrevejo um porto formigando de cantos melancólicos, de homens vigorosos de todas as nações e de navios de todas as formas recortando suas finas e melancólicas arquiteturas sob um céu imenso onde se espreguiça o eterno calor.

Nas carícias de tua cabeleira reencontro langores das longas horas passadas sobre um divã, no quarto de um belo navio, embalado pelo imperceptível balanço das águas do porto, entre vasos de flores e bebidas refrescantes.

No ardente ninho de tua cabeleira respiro o odor de tabaco misturado ao ópio e ao açúcar; na noite de tua cabeleira vejo o infinito resplendor do azul tropical; sobre as margens cheias de penugem de tua cabeleira embriago-me com os odores de alcatrão, de almíscar e de óleo de coco.

Deixa-me morder, demoradamente, tuas tranças pesadas e negras. Quando mordisco teus cabelos elásticos e rebeldes parece-me que estou comendo lembranças.

Charles Baudelaire
In Pequenos poemas em prosa (O Spleen de Paris) 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sonhar é preciso

Sonhar é sair pela janela da liberdade,
é vaguear pelos caminhos
proibidos ou não.
É, sem ter um rumo qualquer,
ter um alvo a perseguir:
a felicidade.

Sonhar é não limitar-se a limites
sejam eles quais forem,
impostos ou não.
É fazer do impossível o possível
quando e como quiser o coração.

Sonhar é viver o passado no futuro
e o futuro no presente.
É ter o se quer
e afastar o que não se deseja
É despertar dentro de si
aquele ser criança.
É almejar a vida...

Pra sonhar não é preciso
ter passado, nem presente,
nem cultura, nem riquezas...
Pra sonhar não precisa fazer parte
de uma classe social
de uma faixa etária
ou de qualquer coisa que separe
um ser humano do seu semelhante
É preciso apenas ter esperança
pois sem esperança ninguém vive
e sonhar é viver...

Sonhar não é direcionar os pensamentos
ao que pode ser real
Mas sim tornar real,
mesmo que apenas na mente,
o possível e o impossível,
o real e o abstrato
o tudo e o nada
Num tempo e num lugar
a serem definidos
ao belprazer de quem sonha...

Sonhar é dar a própria vida
a um sentimento de bem-estar
e, sem restrições,
entregar ao coração as rédeas da razão
É viver com quem se ama
sentindo-se amado.
Sonhar é sair...
É vaguear...
É não ter rumo.
É ter um alvo.
É não limitar-se.
É fazer...
É sentir...
É amar...
É ser amado...
É ter esperança...
É viver!

Sonhar é preciso!

Telmo Deifeld
Sampa, 27/04/99.

Fonte: http://www.lmc.ep.usp.br/people/tdeifeld/poesias/sonhar.html
Fonte: leia mais 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Olhos Parados - Manoel de Barros

                                               Foto de Bernardo e Tomas Medina

Ah, ouvir mazurcas de Chopin num velho bar, domingo de manhã!
Depois sair pelas ruas, entrar pelos jardins e falar com as crianças.
Olhar as flores, ver os bondes passarem cheios de gente, e encostado no rosto das casas, sorrir…
Saber que o céu está em cima.
Saber que os olhos estão perfeitos e que as mãos estão perfeitas.
Saber que os ouvidos estão perfeitos. Passar pela Igreja.
Ver as pessoas rindo. Ver os namorados cheios de ilusões.
Sair andando à toa entre as plantas e os animais.
Ver as árvores verdes do jardim. Lembrar das horas mais apagadas.
Por toda parte sentir o segredo das coisas vivas.
Entrar por caminhos ignorados, sair por caminhos ignorados.
Ver gente diferente de nós nas janelas das casas, nas calçadas, nas quitandas.
Ver gente conversando na esquina, falando de coisas ruidosas.
Ver gente discutindo comércio, futebol e contando anedotas.
Ver homens esquecidos da vida, enchendo as praças, enchendo as travessas.
Girar os braços, respirar o ar fresco, lembrar dos parentes.
Lembrar da cidade onde se nasceu, com inocência, e rir sozinho.
Rir de coisas passadas. Ter saudade de pureza.
Lembrar de músicas, de bailes, de namoradas que a gente já teve.
Lembrar de lugares que a gente já andou e de coisas que a gente já viu.
Lembrar de viagens que a gente já fez e de amigos que ficaram longe.
Lembrar dos amigos que estão próximos e das conversas com eles.
Saber que a gente tem amigos de fato!
Tirar uma folha de arvore, ir mastigando, sentir os ventos pelo rosto…
Sentir o sol. Gostar de ver as coisas todas.
Gostar de estar ali caminhando. Gostar dessa emoção tão cheia de riquezas íntimas.
Pensar nos livros que a gente já leu, nas alegrias dos livros lidos.
Pensar nas horas vagas, nas horas passadas lendo poesias de Anto.
Lembrar dos poetas e imaginar a vida deles muito triste.
Imaginar a cara deles como de anjos. Pensar em Rimbaud, na sua fuga, na sua adolescência, nos seus cabelos de ouro.
Não ter idéia de voltar para casa. Lembrar que a gente, afinal de contas, está vivendo muito bem e é uma criatura até feliz. Ficar admirado.
Descobrir que não nos falta nada. Dar um suspiro bom de alívio, olhar com ternura a criação e ver-se pago de tudo.
Descobrir que, afinal de contas, não se possui nenhuma queixa.
Que está sem nenhuma tristeza para dizer no momento.
Lembrar que não sente fome e que os olhos estão perfeitos.
Para falar a verdade, sentir-se quite com a vida.
Lembrar de amigos. Recordar um por um. Acompanhá-los na vida.
Como estão longe, meu Deus! Um aqui. Outro lá. Tão distantes …
Que fez deste o destino? E daquele? Quase vai se esquecendo do rosto de um … Tanto tempo!
Ter vontade de escrever para todos os amigos.
Ter vontade de lhes contar a vida até o momento presente.
Pensar em encontrá-los de novo. Pensar em reuni-los em torno de uma mesa.
Uma mesa qualquer em um lugar que a gente ainda não escolheu.
Conversar com todos eles. Rir, cantar, recordar os dias idos.
Dar uma olhada na infância de cada um. Aquele era magro, Venício…
Aquele outro era gordo, Abelardo … Aquele outro era triste.
Ah, não esquecer jamais deste último, porque era um menino triste.
Como andarão agora? Naturalmente, mais velhos.
Talvez não conhecerei alguns. Naturalmente, mais senhores de si,
Imaginar todos eles com ternura. Pensar nos mais fracos, naqueles, naturalmente, para quem o mundo deve ter sido menos bom.
Pensar que eles já vêm. Abrir os braços.
Procurar descobrir, no mundo que nos envolve, alguma voz que tenha acento parecido.
Algum andar que lembre o andar longínquo de algum deles…
Ah, como é bom a gente ter infância!
Como é bom a gente ter nascido numa pequena cidade banhada por um rio.
Como é bom a gente ter jogado futebol no Porto de Dona Emília, no Largo da Matriz.
E se lembrar disso agora que já tantos anos são passados.
Como é bom a gente ter tido infância e poder lembrar-se dela.
E trazer uma saudade muito esquisita escondida no coração.
Como é bom a gente ter deixado a pequena terra em que nasceu.
Ter fugido para uma cidade maior, conhecer outras vidas.
Como é bom chegar a este ponto de olhar em torno
E se sentir maior e mais orgulhoso porque conhece outras vidas…
Como é bom se lembrar da viagem, dos primeiros dias na cidade.
Da primeira vez que olhou o mar, da impressão de atordoamento.
Como é bom olhar para aquelas bandas e depois comparar.
Ver que está tão diferente, e que já sabe tantas novidades…
Como é bom ter vindo de tão longe, estar agora caminhando,
Pensando e espiando no meio de pessoas desconhecidas
Como é bom achar o mudo esquisito por isso, muito esquisito mesmo.
E depois sorrir levemente para ele com os seus mistérios …
Que coisa maravilhosa, exclamar. Que mundo maravilhoso, exclamar.
Como tudo é tão belo, tão cheio de encantos!
Olhar para todos os lados, olhar para as coisas mais pequenas, e descobrir em todas uma razão de beleza.
Agradecer a Deus, que a gente ainda não sabe amar direito,
A harmonia que a gente sente, vê e ouve.
A beleza que a gente vê saindo das rosas, a dor saindo das feridas.
Agradecer tanta coisa que a gente não pode acreditar que esteja acontecendo.
Lembrar de certas passagens. Fechar os olhos para ver no tempo.
Sentir a claridade do sol, espalmar os dedos, cofiar os bigodes,
Lembrar que tinha saído de casa sem destino, que passara num bar, que ouvira uma mazurca,
E agora estava ali, muito perdidamente lembrando coisas bobas de sua pequena vida.


MANOEL DE BARROS, O POETA QUE VEIO DO CHÃO
Aos 93 anos, o poeta associado ao Pantanal prefere pisar todos os dias no asfalto

Fonte: http://www.limacoelho.jor.br/ 

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Até Amanhã


Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude , o vento e as areias.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Às Vezes


Às vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos.
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos corpos encontramos.

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
Num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

Fonte: sopasdeletras

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .

O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .

Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac

Fonte: revistaagulha

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Céu, sol e mar...

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O sol a iluminar o oceano
faz meu espírito dourar
quebrando o escuro desengano
com sua luz em meu rosto,
trocando a vida pelo brilho fosco,
reacendendo a chama que de repente
tende a tremular e se apagar.

No topo da mansidão celestial
abre-se em leque, intensa luz,
inimaginável cerimonial,
a reverenciar o astro rei
refletindo a paz que desacreditei,
aquecendo meus frios passos nas águas
flutuantes de um mar que nunca naveguei.

Ondas profundas dissipando brumas,
a embeber de brancas espumas,
penetrantes e insólitas, a pele esfacelada
de dias sombrios pela ausência do sol,
quebrando na areia o cheiro de sal,
retrocedendo ondulantes em direção horizontal
onde se confundem céu, sol e mar.

Ponto de encontro de aves marinhas
que ao cair da tarde juntas se aninham
sem nunca manchar o azul
nem macular o branco,
mostrando a alegria de um mundo brando
deixando no ar vestígios da paz
num voar tão leve que no céu descreve
tanta simplicidade a me tocar o coração.

Carmen Lúcia Carvalho de Souza ( biografia )
01/07/2011
Fonte: sitedepoesias

sábado, 8 de outubro de 2011

Cora Coralina

"Haverá sempre esperança de paz na Terra
enquanto houver um semeador semeando trigo
e um padeiro amassando e cozendo o pão,
enquanto houver a terra lavrada e o
eterno e obscuro labor pacífico do homem,
numa contínua permuta amistosa dos campos e das cidades."

Cora Coralina (1889-1986), poeta brasileira, em Pão-Paz, do livro Melhores Poemas

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