sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A dor na separação

Em todo o mundo os divórcios ocorrem com mais frequência por volta do quarto ano de casamento, seguido por um declínio nos anos seguintes, segundo dados das Nações Unidas. Depois, se desenvolve certa tendência à acomodação, o que vai tornando mais difícil o rompimento. Curiosamente, o psicanalista W.Reich, na década de 1940, sem saber desses dados, concluiu que uma relação amorosa de base sexual não passa de quatro anos.

Mas muito antes dele, no século 12, o mito de Tristão e Isolda já dava uma ideia do tempo de duração de um amor apaixonado. Quando eles têm sede e bebem por engano a poção do amor, apaixonam-se e caem nos braços um do outro. Apesar disso, ao final de três anos, a poção perde seu efeito. Entretanto, se uma relação amorosa dura quatro ou vinte anos, não importa tanto quanto a dor causada pela separação.

A maioria das pessoas só se sente valorizada, com certeza de possuir qualidades, se tiver um parceiro amoroso. Se este, por qualquer razão, não desejar mais continuar a relação, o outro se sente vazio, com a sensação de que lhe arrancaram um pedaço. Mas nem sempre o parceiro satisfaz ou preenche as necessidades afetivas e sexuais do outro, mas isso não é levado em conta.

A separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia do par amoroso idealizado, além de abalar a autoestima e exacerbar as inseguranças pessoais. A ideia de felicidade através do amor no casamento influi diretamente na intensidade da dor na separação.

A crença de que o casamento é o único meio de realização afetiva e de que é possível uma complementação total entre duas pessoas, é um equívoco extremamente nocivo. Favorece a simbiose, sobrecarregando marido e mulher como depositários das projeções e exigências afetivas do outro. Sem contar que o ressentimento e o ódio na separação são causados pela constatação de que, ao ir embora, o parceiro frustrou essa expectativa de complementação. Tudo poderia ser bem diferente. A questão é que, em quase todos os casamentos, as pessoas abrem mão da liberdade, da independência — incluindo aí amigos e interesses pessoais — e por isso se tornam frágeis em caso de ruptura.

Alguns podem apresentar um quadro de depressão e em casos extremos até tentar suicídio. Mas isso não significa que havia um grande amor. É comum, nesses casos, a falta do outro ser sentida de forma dramática por reeditar vivências de perdas anteriores. Não se chora somente a separação daquele momento, mas também todas as situações de desamparo vividas algum dia e que ficaram inconscientes.

Por Regina Navarro Lins
Fonte: odia.terra

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