sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Histórias do Cotidiano


Início de mês, farmácia cheia de idosos com a receita médica na mão para comprar os remedinhos de sempre, aquilo já virou prestação, todo início de mês metade da aposentadoria fica na farmácia, e eu lá no balcão também, com a mão estendida num apelo de “por favor, me atenda”.

Enquanto esperava o funcionário trazer o meu pedido, olhei o tamanho burburinho do local e jurava baixinho, como todo mês, “não venho mais aqui, nossa, quanta gente”. Reparei, então, juntinho a mim, uma jovem que parecia ter uns 24 anos, com uma fisionomia cansada, debruçada no balcão balbuciando: “o homem se perdeu lá dentro, não é possível...” ai eu perguntei: “você já pediu há muito tempo?” e ela: “já, aqui demora muito”. E eu: “É...”

Aí chegou o rapaz que trazia o pedido dela. Colocou-o em cima do balcão e ela disse: “Ah, não é esse, esse eu já usei e é muito ruim, tem que ser um que tem a fita vermelha fechando o pacote”. Eu olhava para o material, não me era familiar, mas não me era estranho, e, não devia, mas o fiz, perguntei: “O que é isso?” E ela: “É uma sonda”, há dois anos meu marido sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégico e ele usa sonda, mas a que ele trouxe não serve”. Eu tomei um susto. Uma moça tão jovem, com um marido tetraplégico? Não resisti: “E daí, você tem alguém para cuidar dele?”.
Ela: “Não, eu faço tudo e ainda quando ele sofreu o acidente estava com um filho de sete meses e agora ele está com dois anos....é uma barra....mas eu já falei com a mãe dele, que mora na Bahia, que eu quero o divórcio e para ela levar ele porque eu preciso estudar, trabalhar, cuidar da minha vida e com ele não posso.” Eu: “É verdade.”

Enquanto ainda aguardava o meu pedido minha cabeça girou em torno daquela situação dolorosa, difícil mesmo de ser resolvida até porque senti que financeiramente não deveria ser fácil, mas será que é assim que resolvemos um problema sério? há um casamento, há um filho, será que é neste momento que a gente se separa do homem que amamos? Complicadas situações surgem inesperadamente para cada um de nós e não devemos julgá-las, cada um sabe de si, de sua capacidade de suportar os revezes da vida e muitas vezes as saídas dos graves problemas de doença são doídas, sofridas mas mesmo assim procurei não deixar que aquele momento me levasse muito prá baixo e me peguei pensei que realmente estamos em outros tempos, os tempos modernos do Chaplin caducou há séculos, porque anos atrás, antes da emancipação da mulher, quando havia casamento era “na doença e na saúde, na alegria e na tristeza” e “até que a morte nos separe”, agora, a barra pesou, a gente manda de volta para a casa da mamãe........ih! Tempos Moderníssimos!!!!!!!!!

Autora: Yedda Guimarães de Campos
Fonte: velhosamigos

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails