quinta-feira, 4 de março de 2010

Canção na Plenitude


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.
Fonte: releituras

3 comentários:

Ava disse...

Ah, a maturidade e suas sabedorias e encantos...

Adoro a mimha idade, essa idade da plenitude!

Iddae em que os caminhos se mostram a minha frente, como um mapa decorado.


Belíssimo texto. Lia insuperável!

Beijos!

Sammyra Santana disse...

Depois de um longo e tenebroso inverno... VOLTEI! rsrs

e que bom voltar aqui e ler um texto tão lindo, tão sábio, tão inspirador...

como eu desejo amadurecer!

beijo Jiiiiiiiiiiime

Anônimo disse...

El frío puede llegar a congelar si no llevas abrigo...
La primavera desvela lo que ha dormido...
El verano luce ya su mayor elixir...


Gracias.

Un abrazo.

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