Olhas para além do muro; e
o que vês? O tempo para além do tempo,
a tarde que não chega, ou a noite que
vai chegar quando menos a esperas,
uma última ave no limite
do céu, pedindo-te que a não sigas.
Mas não cedas ao abraço da árvore,
ao apelo das raízes, à melancolia
de um desejo de horizonte. Encosta-te
a esse muro, sabendo que ele desenha
o espaço que te foi dado, e que as tuas
mãos descobrem no frio da pedra.
Não te resignes ao que existe. A ave
que desapareceu por trás da colina conhece
o caminho que os teus olhos procuram.
Nuno Júdice
Fonte: aaz-nj.blog
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