quinta-feira, 28 de maio de 2009

ANTOLOGIA POÉTICA - MAURO MOTA

O GUARDA-CHUVA

Meses e meses recolhida e murcha,
sai de casa, liberta-se da estufa,
a flor guardada (o guarda-chuva). Agora,
cresce na mão pluvial, cresce. Na rua,
sustento o caule de uma grande rosa
negra, que se abre sobre mim na chuva.

CHUVA DE VENTO

De que distância
chega essa chuva
de asas, tangida
pela ventania?

Vem de que tempo?
Noturna agora
a chuva morta
bate na porta.

(As biqueiras da infância, as lavadeiras
correm, tiram as roupas do varal,
relinchos do cavalo na campina,
tangerinas e banhos no quintal,
potes gorgolejando, tanajuras,
os gansos, a lagoa, o milharal.)

De onde vem essa
chuva trazida
na ventania?

Que rosas fez abrir?
Que cabelos molhou?

Estendo-lhe a mão: a chuva fria


(Extraído do livro Antologia Poética-Editora Leitura S.A. -1968-pág.87 e 116)


Mauro Mota
Nasceu em Recife, Pernambuco, em 1911, e faleceu na mesma cidade, em 1984. Cronista e ensaísta, publicou, entre outros livros, O cajueiro nordestino (1964), Imagens do nordeste (1961), Geografia literária (1961), História em rótulos de cigarro: a litogravura do antigo Recife (1965), Modas e modos (1977) e Alfinetes e bombons: aforismos (1984). Dedicou-se também ao jornalismo e ao magistério. Obra poética: Elegias (1952), A tecelã (1956), Os epitáfios (1959), O galo e o cata-vento (1962), Canto ao meio (1964), Antologia poética (1968), Itinerário (1975), Pernambucânia ou cantos da comarca e da memória (1979), Pernambucânia dois (1980), Obra poética (2004) etc. Sobre o autor: O tempo sem remédio na farmácia: uma leitura da obra de Mauro Mota (1982), de Luzilá Gonçalves Ferreira.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails